Faltava pouco para eu descer do busu quando ela subiu na Av. Lins de Vasconcelos, vestia uma blusa de lã, camiseta, calça jeans, na mão uma sacolinha dessas de supermercado, devia ter pouco menos de cinquenta anos, o andar era estranho, um tanto que vacilante, mas eu ainda não havia percebido na outra mão um monte de papéis pequenos sendo que um ela apresentou ao cobrador, sua fisionomia apesar do óculos de lentes grandes era dura, sofrida, o rosto marcado, fisionomia típica de muitas pessoas da região nordeste do Brasil, após o breve contato com o cobrador do busu com o consentimento dele e com perceptível dificuldade ela se postou de quatro e com os seios magros roçando o chão passou por baixo da catraca, se levantou tirou a poeira das mãos, veio com aquele olhar triste e sentido, com aquele andar esquisito, típico de alguém que tem alguma atrofia muscular distribuindo o pequeno papel entre os passageiros, eu já não tinha mais tempo de ler, meu ponto era o próximo, saquei uma moeda de R$0,50 do bolso, era tudo que eu tinha e quando olhei em seus olhos e lhe estendi a mão, naquele momento, olho no olho, vi toda uma estória pessoal passar diante de mim...
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